quinta-feira, 9 de julho de 2009

Como fazer uma boa foto? 1. Paciência

Começando a série “Como fazer uma boa foto”, tratemos de um tópico tão importante como pouco valorizado: paciência.

Num momento em que tudo acontece mais rápido – as notícias e eventos se atropelam, as câmeras permitem fazer várias fotos por segundo, é fácil expor nossas imagens na rede global quase instantaneamente -, parece quase um paradoxo a idéia de esperar. Assim como a fast-food, parece também se proliferar a fast-photography: olhou, clicou, resolvido. Quantidade poderia ser considerada sinônimo de qualidade?

Como já é possível antecipar, a minha resposta a essa questão é um veemente não. E mais uma vez, eu lembro que não estou tratando de fotojornalismo, de prazos ultra-apertados e matérias a serem cumpridas; já deixei claro inúmeras vezes que não é assim que eu fotografo e, portanto, não é isso que eu discuto. Eu fotografo por prazer, para produzir imagens que agradem a mim e não a um editor, para gerar sentimentos relevantes em observadores. Para esses objetivos, felizmente, é possível fotografar pacientemente e pretendo demonstrar que essa qualidade pode melhorar sensivelmente suas imagens finais.

Foram necessárias algumas tentativas até que passasse alguém cuja sombra se formasse exatamente nesse espaço entre as pilastras, que era o que eu tentava fotografar.

Mas se as coisas acontecem a todo momento, de forma dinâmica, qual seria a importância da paciência? Na verdade, é exatamente o dinamismo que reforça essa necessidade: será que a primeira foto que você faz de um assunto é a melhor foto possível? Geralmente, não. Fotografia também pressupõe experimentação, análise do cenário, um verdadeiro estudo do contexto. Fotografando paisagens, por exemplo, essa característica é especialmente importante, já que o cenário é enorme, o que possibilita várias perspectivas e diferentes possibilidades de retratá-lo.

Interlaken, 2006

Até agora, o que quis demonstrar foi que, com paciência, podemos explorar muito mais o ambiente em que estamos, procurar ângulos mais interessantes, diferentes possibilidades de mostrar um assunto que pode ser exibido de infinitas maneiras. E se há infinitas formas de expressão, por que não procurar a que melhor expressa o que você quer comunicar?

Hallstatt, 2006

Mas há outra ótima justificativa para termos paciência, que é a própria base da fotografia: a luz.
E ela também é muito dinâmica. Perto do nascer e do pôr-do-sol, por exemplo, a intensidade e a qualidade da luz mudam drasticamente em poucos segundos, alterando radicalmente o resultado.

Clique para ver a foto em tamanho maior e perceber os últimos raios de sol passando por entre as nuvens no horizonte: 1 minuto antes, eles não tinham um contraste suficiente com o céu; 1 minuto depois, eles já não existiam mais

Esse artigo de Michael Reichmann, um excelente fotógrafo a quem admiro bastante, (link do artigo http://www.luminous-landscape.com/essays/about-light.shtml ) demonstra isso de forma simples e contundente. Em 1 minuto e 22 segundos, a partir da mesma posição e angulação, ele produz 2 imagens totalmente diferentes apenas por causa da movimentação das nuvens logo acima da paisagem, alterando os locais onde a luz direta do sol atinge a cena.

Não é possível ressaltar o suficiente a importância da paciência para a fotografia, espero ter passado, ao menos, uma leve noção acerca desse conceito. Próximo tema do ensaio: simplicidade / objetividade!

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