terça-feira, 14 de julho de 2009

A FOTOGRAFIA E O TEMPO

Desde o seu aparecimento, em meados do século XIX, a relação da fotografia com o tempo ajuda a definir sua natureza. Afinal, para muitos, o que é a fotografia a não ser a materialização do desejo de captar o fugaz, o transitório? De fato, essa é uma de suas características e talvez aquela que a torna tão interessante, capaz de seduzir a todos que dela se aproximam, do velho à criança.

Das longas exposições para a produção de daguerreótipos até a captação via celular de uma imagem para ser enviada quase automaticamente a qualquer parte do mundo, a fotografia mantém seu caráter sedutor. Justamente por essa capacidade de congelar o instante, tornando perene o fugidio, ela fascina quem a vê.

No entanto, a relação da fotografia com o tempo não se resume à sua mera (e ao mesmo tempo estupenda) capacidade de congelar o fugaz.

Indicando uma “segunda natureza” da fotografia, vários de seus operadores se prestaram e se prestam a explorar suas possibilidades de instrumento para preservar a extensão do tempo. E essas possibilidades sempre foram inúmeras. Desde as primeiras fotomontagens de meados do século XIX às últimas experiências cinematográficas, o que foram elas a não ser tentativas bem-sucedidas de fixar a duração, de aprisionar e estender o tempo?

E aqui a referência não é apenas ao tempo corrido do cotidiano, dominado pelo relógio. Também está em pauta o tempo dilatado dos símbolos e aquele sintético das alegorias que desde sempre povoaram as fotomontagens, tenham sido elas produzidas a partir da montagem artesanal de fotos justapostas a outras fotos ou das trucagens digitais.

Do século XIX ao XXI, ao lado de produções fotográficas que congelavam o instante, emergiu e seguiu paralela uma fotografia que – quem sabe insatisfeita com aquela sua “primeira natureza” – investiu em intersecções de flagrantes, seqüências de deslocamentos...

Walter Benjamin observou em um de seus ensaios que à fotografia isolada faltava algo e que essa lacuna era o que a levava a ser complementada por legendas ou, então, por outra fotografia, e outra, e outra...

Enfim, é no congelamento do instante ou na criação de uma extensão temporal, objetiva ou não, que a fotografia opera, seja ela uma fotografia jornalística, publicitária ou “autoral”; seja ela analógica ou digital.

Nesta edição do Prêmio Porto Seguro Fotografia, a relação ambígua entre o tempo e a fotografia é recolocada em cena, abrindo a possibilidade para que seus mais diversos praticantes possam colaborar na ampliação deste debate. Digital ou analógica, materializada no papel ou enviada via celular; comprometida com os mais variados propósitos ou ostensivamente “pura”, é a maneira como o fotógrafo opera com o problema do tempo na construção da imagem (às vezes indo contra as próprias injunções do aparelho) o que interessa ao Prêmio Porto Seguro Fotografia investigar,
exibir e premiar.

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