quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O "meio termo" da fotografia digital

Fonte: Minha notícia IG
David Pogue / New York Times


Nova geração de câmeras da Nikon e Canon tenta combinar a qualidade de imagem e versatilidade dos modelos profissionais com o preço e tamanho das câmeras domésticas. Confira o resultado


Sabe, a física pode ser irritante. As malditas regras da natureza deixam nossa bagagem pesada, derretem as calotas polates e conspiram pra fazer o pão cair sempre com a manteiga para baixo.


E a física explica porque você não pode tirar fotos com qualidade profissional usando uma câmera pequena. Fotos lindas, grandes e coloridas exigem grandes sensores de imagem e grandes lentes para iluminá-los. Então ficamos presos a duas categorias de câmeras: as de bolso, que tiram fotos medíocres, e aquelas pretas grandalhonas (SLRs) que exigem uma alça - ou melhor ainda, um carrinho de mão - para carregá-las por aí.


E como os dois extremos da escala estão saturados com modelos de câmeras, os fabricantes estão ansiosos para se diferenciar na esperança de encontrar novos mercados. Neste mês, a Nikon e a Canon estão apostando em uma categoria que, até agora, era praticamente deserta -- a que fica exatamente no meio do caminho.


Chame-as de mini-SLR.


A nova D5000 da Nikon (US$ 850 nos EUA, sem as lentes) e a Canon PowerShot SX1 IS (US$ 600 nos EUA) parecem similares. Os corpos tem tamanho e formato idênticos - como pequenas SLRs - e elas pesam quase a mesma coisa (cerca de 680 gramas). Ambas podem gravar vídeo em alta-definição. Elas tem até um conector Mini HDMI para conexão direta à sua TV de alta-definição (o Mini HDMI exige um cabo especial, não incluso com as câmeras).


Todas tem uma tela móvel na parte de trás. Este recurso permite que você fotografe de ângulos altos, baixos ou de lado, sem falar nos auto-retratos. A tela do modelo da Nikon gira para ficar abaixo da câmera, em vez de ao lado, o que é um design melhor, já que mantém a imagem "alinhada" com a lente. Uma tela móvel também tira a câmera da sua cara, o que facilita na hora de obter expressões mais naturais de quem está sendo fotografado (especialmente crianças).


Entretanto, apesar das semelhanças estas câmeras chegam ao "meio do caminho" vindas de direções opostas. A Nikon tentou "domesticar" uma SLR, enquanto a Canon tentou "profissionalizar" uma câmera doméstica.


A Nikon D5000 é uma legítima SLR. Aceita lentes intercambiáveis, seu visor permite ver através da lente, tem um enorme sensor de imagem lá dentro e nenhum atraso de obturador (como é chamado o intervalo de tempo entre você apertar o botão e a câmera bater a foto).


De fato, se você ler apenas a ficha técnica, pode acabar confundindo a D5000 com a mais avançada (e cara) Nikon D90 (US$ 1.150 sem as lentes, nos EUA). O sensor, as características e a maioria dos recursos são exatamente os mesmos. A D5000 tem o mesmo fantástico sensor de 12.3 megapixel, o mesmo mecanismo para livrá-lo da poeira e o mesmo sistema de foco automático com medição em 11 pontos. Tem até a mesma velocidade na fotografia sequencial (4.5 fotos por segundo), que é fantástica não só para esportes e cenas de ação como para capturar efêmeras expressões faciais.


Como a maioria das SLRs de hoje, a D5000 tem o modo "Live View". Com ele a câmera demora mais para focar, mas você pode enquadrar a cena usando a tela LCD, em vez de usar o visor ótico. A D90 foi a primeira SLR capaz de gravar vídeo, e a D5000 também herda este recurso.


Mas é aqui que as coisas ficam estranhas. A Nikon colocou todos estes recursos profissionais em uma câmera muito menor e mais leve, que é obviamente voltada aos amadores.


Por exemplo, ela é lotada de modos de cena que deixam as coisas menos intimidadoras para os novatos - ajustes prontos para Pôr-do-Sol, animais, praia e neve, cada um deles com uma imagem de exemplo mostrada na tela.


Como em outros modelos "low-end" recentes da Nikon, a D5000 também torna mais fácil entender a fotografia ao mostrar uma representação visual da abertura da lente na tela à medida que ela aumenta ou diminui. A tela também indica a velocidade do obturador de forma gráfica e como uma fração (1/25, por exemplo, em vez de apenas "25" como na maioria das SLRs). Mas a D5000 não tem o painel de status no topo como as suas irmãs maiores - justamente porque o corpo dela é menor.


Trocando em miúdos, a D5000 é uma mistura tão grande de recursos "profissionais" e "domésticos" que os representantes da Nikon me perguntaram como eu a descreveria. Esta é minha sugestão: é uma câmera profissional presa no corpo de uma câmera doméstica.


Algumas coisas legais da D90 não estão presentes na D5000. Não dá pra usar algumas lentes antigas da Nikon e a bateria é menor, suficiente para 510 fotos em vez de 850. E a câmera não é capaz de se comunicar com unidades de flash sem fio.


Mas há algumas vantagens. O novo "Quiet Mode" (modo quieto) abafa ligeiramente o ruído do obturador. Focar antes de começar a filmar é mais rápido embora, infelizmente, ainda seja impossível mudar o foco enquanto filma.


O importante aqui é deixar claro que a D500 porduz imagens espetaculares sob todas as condições de luz. Ela tem o mesmo mecanismo sofisticado dos modelos topo de linha da Nikon em um corpo pequeno, resistente, amigável e com um design adorável. É um tiro certo.


Não dá pra dizer o mesmo da nova Canon PowerShot SX1. Ela é uma evolução da série PowerShot S IS que estreou em 2004. O IS significa estabilização de imagem (Image Stabilization, em inglês), e o S indica uma câmera que é tão boa nos vídeos quanto nas fotos. Em contraste à maioria das câmeras, a SX1 pode mudar o foco e até dar "zoom" enquanto filma, por exemplo. O motor da lente é tão silencioso que os excelentes microfones estéreo não captam seu ruído. Ele tem até botões de obturador separados para vídeos e fotos, então você pode tirar uma foto durante a gravação de um vídeo.


Mas o que fez da SX1 um modelo tão aguardado foi seu sensor de imagem. É um chip CMOS, do tipo que é encontrado em SLRs, incluindo a popular série Rebel da própria Canon. É muito mais poderoso que o sensor encontrado nas câmeras domésticas, e dá à SX1 vários recursos ausentes em suas antecessoras, como um modo sequencial muito rápido (4 quadros por segundo) e gravação de vídeo em alta-definição.


Tudo isso, e mais uma lente grande-angular com zoom óptico de 20x (sim, 20x!). Onde é que eu assino?


Infelizmente, a SX1 simplesmente não tira boas fotos. Ela é como uma lista de recursos em busca de uma câmera. Sob luz brilhante, você vai amá-la. É rápida, é fácil, está sempre pronta e as imagens são nítidas e com cores saturadas. Mas à medida que a luz diminui, a qualidade vai junto.


Ruído (granulação) começa a aparecer mesmo em fotos externas em dias nublados (ISO 400, por exemplo) e quando o software da câmera tenta dar um jeito nele, você perde nitidez e detalhes.


A não ser que você diminua a exposição, a SX1 também tende a "estourar" as áreas claras da imagem. Ou seja, as transforma em "manchas" de luz tão branca que parece uma explosão nuclear. (Você pode conferir amostras de imagem de ambas as câmeras em nytimes.com/tech).


A SX1 também tem, em lugar de um visor óptico, um viewfinder eletrônico, uma minúscula tela no lugar da lente. Isso seria bom se tal telinha tivesse uma resolução excelente, mas esta é tão ruim que dá pra ver os pixels. Horrível!


Sites especializados no teste de câmeras como o dpreview.com e testfreaks.com compararam a SX1 com sua irmã muito mais barata, a SX10 (US$ 340, nos EUA). A SX10 não tem o chip CMOS e não faz vídeos em alta-definição, mas tira fotos melhores. Estranho, não?


É muito atípico da Canon, que faz as melhores câmeras compactas do mundo, lançar um modelo com tantos defeitos. É muito legal ter zoom óptico de 20x, um botão dedicado para mudar entre os modos Widescreen e padrão, todos aqueles controles manuais e a opção de usar pilhas AA na hora do aperto. Mas por U$ 600, você merece uma câmera cujo sensor pelo menos cumpra a tarefa de capturar a luz direito.


Claro, o que o mundo realmente quer é um sensor imenso como o da D5000 em uma câmera que caiba no bolso da camisa. Infelizmente, você provavelmente nunca irá ver um chip como este em uma câmera muito menor que a D5000 - pelo menos não até que alguém faça uma emenda às leis da física.

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