sexta-feira, 19 de junho de 2009

Se você soubesse o que eu posso ver com os seus olhos


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É engraçado como poucos minutos podem significar tanto. A paixão por uma arte nos faz ampliar uma idéia dez vezes mais do que ela nos é apresentada. Dissecamos o assunto até sentirmos satisfeitos com o resultado de nossa busca. Alguns chamariam isso de obsessão. Nós, apenas uma reunião de discussão de fotografia. Veja o filme “Blade Runner” e como uma cena de poucos minutos transforma-se em um artigo de cinco páginas.

Falando em obsessão, durante o final do século XIX e começo do século XX, todo o progresso da máquina fotográfica girou em torno da necessidade do ser humano em aprimorar a capacidade de mimetismo da fotografia com o real. Nessa época, a realidade retratada fielmente pela fotografia era usada como testemunho do mundo físico para os relatórios científicos. Dessa forma, a fotografia seria um espelho da realidade. O observador confia nela tanto quanto nos seus próprios olhos.

Através de uma comparação com a pintura de Jan van Eyck, onde um reflexo no espelho revela um outro lado da imagem antes não descoberto, o filme retrata a fotografia como suporte à coleção de lembranças fragmentárias pondo à prova a noção de fotografia como comprovação de um fato, verdade ou realidade.

No filme, essa questão é representada pela necessidade da fotografia ser um guardião de um passado que assegura ao sujeito representado que ele possui uma história, que existe e que continuará existindo apesar do tempo. Afinal de contas, se você tem em suas mãos uma foto sua na infância, é seguro afirmar que aquilo realmente aconteceu e que aquela pessoa é você. Ou não? O filme brinca com essas questões, nos fazendo questionar sobre a representatividade da imagem na fotografia. Essa disparidade entre o olho e a máquina nos revela que somos todos replicantes, fundindo memória visual e materialidade momentânea.

O olho toma grande parte da trama dessa ficção, nos trazendo questões como o ‘olho como janela da alma’, onde dele tudo capta e transfigura em memória e história. E nos faz chegar a conclusão que, o fotógrafo é esse ser que tudo observa, mas que transforma e resignifica sua realidade.

Bibliografia

Suppia, Alfredo. Esper Machine: a metalinguagem em Blade Runner, de Ridley Scott – I

Araujo, Denize Correa. A (ir)realidade da cor na fotografia. (in) Imagem (ir)realidade: comunicação e cibermídia. Porto Alegre: Sulina, 2006.

O post é um resumo do que foi discutido em reunião sobre o tema.

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