sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Ser fotógrafo é uma maneira de viver, de enxergar o mundo



por Karla Monteiro

Aos 53 anos de idade e 26 de profissão, a veterana Vera Albuquerque carrega uma certeza: "todo mundo pode fotografar". E bem, segundo ela. Tal afirmação é fruto de uma longa experiência ensinando a arte de captar boas imagens.

Vera começou sua carreira de professora de fotografia há muitos anos, quando desembarcou em São Paulo, no início dos anos 80. Vinda de São Luís do Maranhão, ela chegou por aqui com um belo portfólio debaixo do braço - e, claro, uma enorme vontade de vencer como fotógrafa na cidade grande. "O começo foi muito difícil. Na época, só havia espaço para fotojornalistas. E eu nunca tive temperamento para isso. Então acabei enveredando para a formação de fotógrafos", lembra.

A primeira porta a se abrir foi a do Sesc Pompéia, então recém-inaugurado. No novo espaço, Vera registrava eventos, principalmente de teatro, e, paralelamente, capitaneava cursos de fotografia. Depois desta experiência, ela assumiu o comando dos cursos do Museu Lasar Segall, onde está até hoje.



Ironicamente, a professora é autodidata. Quando Vera começou a fotografar, ainda não existiam escolas para se aprender a arte do clique. Ela contava então 27 anos quando começou a se interessar e pesquisar fotografia. Em pouco tempo, o talento se revelou. Logo passou a trabalhar como fotógrafa oficial da Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, registrando manifestações populares locais.

Em 1979, Vera veio a São Paulo fazer um estágio no mesmo Museu Lasar Segall que se tornaria a sua casa. Na ocasião, apresentou um trabalho que havia feito em um cortiço maranhense. As fotos renderam uma exposição - e foram selecionadas para a primeira trienal de fotografia do Museu de Arte Moderna (Mam). Começou assim o namoro com Sampa, cidade que ela acabou adotando dois anos depois.

No salão de exposições da Ímã Foto Galeria, onde Vera vai ministrar os cursos básico e avançado de fotografia, ela falou do assunto que mais a apaixona: ensinar fotografia.



Você diz que todo mundo pode fotografar. Qualquer pessoa é capaz mesmo se tornar um bom fotógrafo?
Eu acredito que todo mundo tem talento. O papel do professor, então, é ajudar o aluno a desenvolver a sensibilidade visual.

O que é fotografar bem?
É saber fazer o elo entre a sensação visual e o ato de fotografar.

Mas como você ajuda um aluno a aprimorar essa sensibilidade visual?
Eu tento promover nos meus alunos o autoconhecimento, a autodescoberta, usando a fotografia como ferramenta. Posso dar um exemplo: eu sempre peço que façam um uto-retrato. A sensibilidade é estimulada de cara. Nada mais preocupa o ser humano do que a forma como é visto pelo outro. Depois, faço várias propostas para que eles investiguem o mundo ao seu redor com a câmera na mão. É como um diário, só que feito com imagens.

O que um aluno sai levando dos seus cursos?
Além de técnica, com certeza, ele sai acreditando em si mesmo, acreditando no próprio olhar. Para mim, ser fotógrafo é uma maneira de viver, de enxergar o mundo, principalmente quando se trabalha com a fotografia como
expressão pessoal.

Quem é o seu mestre?
O fotógrafo húngaro André Kertész, que viveu nos Estados Unidos a partir dos anos 30. O trabalho autobiográfico dele me emociona muito. Durante anos, ele fotografou situações diversas de uma mesma janela da sua casa. Quando a esposa morreu, Kertész passou a colocar objetos que ela gostava na tal janela e fotografava com polaroide. É impressionante o que ele conseguiu com fotos tão singelas.

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